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Até quando vamos ter água boa para beber?

Equipa do CCIAM estuda as vulnerabilidades do sistema da EPAL

A mudança climática atual já teve efeitos sobre o ambiente natural, incluindo nos recursos hídricos. Mas, mudanças ainda maiores são esperadas durante o século XXI.

Segundo uma equipa de investigadores do CCIAM (Climate Change Impacts, Adaptation and Mitigation Research Group), um grupo integrado no laboratório S.I.M (Sistemas, Instrumentalização e Modelação), Faculdade de Ciências de Lisboa, no sul da Europa, a precipitação vai muito provavelmente diminuir e os eventos extremos (incluindo inundações e secas) serão mais frequentes. Neste contexto, este grupo de investigação ligado às alterações climáticas começou a estudar as vulnerabilidades de médio e longo prazo do sistema da EPAL (Empresa Portuguesa das Águas Livres) para a mudança climática, fornecendo assim informações para o planeamento e apoio à decisão.

Intitulado «ADAPTACLIMA-EPAL», neste projeto os investigadores estão a fazer um plano estratégico de adaptação da EPAL aos cenários de alterações climáticas. Ou seja, “períodos de seca como o que estamos a sofrer agora, e já sofremos em 2003 e 2005, terão tendência a acontecer cada vez mais, com características um pouco diferentes. Por isso, modelamos esses cenários e tentamos perceber qual a melhor estratégia para a EPAL se adaptar a este clima em mudança”, explica David Avelar ao Ciência Hoje.

Segundo o biólogo da equipa do CCIAM, o intuito, num sentido geral, é perceber se no futuro iremos ter água boa para beber.

Desde que iniciou, em 2010, o estudo já modelou os cenários climáticos e socioeconómicos para a região da EPAL, que é toda a bacia do Tejo. Isto é, “já sabemos como é que vai ser a pluviosidade e quais as possibilidades de evolução da população do lado da procura [de água]. E estamos a terminar agora a parte dos impactos nos modelos hidrológicos”, em colaboração com a Universidade do Aveiro, a Universidade Nova de Lisboa e o Instituto Superior Técnico, descreve David Avelar.

Os resultados da modelação climática revelam, de acordo com o cientista, que a nível socioeconómico “a população vão ser mais eficientes a vários níveis, devido à evolução da tecnologia, e vão tentar ir cada vez mais para as cidades. Ou seja, na área da procura da EPAL vai haver um pouco menos de agricultura, que é o setor com maior impacto no consumo de água e aí haverá uma redução”.

No que respeita à disponibilidade de água, “é de prever que a chuva média anual se mantenha mas os períodos de seca, que são os mais preocupantes, tendem a aumentar um pouco”.

David Avelar alerta que como em alguns dos cenários modelados se “prevê que estes períodos de seca aumentem, poderá haver algum problema a nível de quantidade de água disponível”. Aqui, sugere o investigador, “têm de ser acionadas medidas de adaptação, como está a acontecer agora em Inglaterra: deixa-se de regar jardins municipais e há restrições a nível de consumo populacional”.

A nível da qualidade da água, continua, “poderá haver problemas” uma vez que, por exemplo, “na bacia de Castelo de Bode, com a redução da quantidade de água há um aumento da concentração de nutrientes e o perigo de eutrofização aumenta”. Com isto “a água fica com muito menor qualidade”.

Até 2013, os investigadores vão perceber que impactos e vulnerabilidades o sistema da EPAL tem para, com o clima futuro que é de esperar que inclui o aumento em amplitude e frequência de episódios extremos, ajudar a empresa a adaptar-se.

Há várias estratégias de adaptação práticas como, por exemplo, “sempre que o nível da barragem baixa um certo patamar acionar-se um sistema de alerta para se deixar de regar jardins dos municípios”, sugere David Avelar. Ou, se os impactos forem de tal ordem preocupantes “propor a construção de uma outra barragem ou explorar outro tipo de aquíferos que foram modelados e que terão menos impactos”, acrescenta. 

Por: Susana Laje

in: www.cienciahoje.pt