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Ébola não é porventura tão temível como a gripe

Um dos grandes obstáculos ao controlo das epidemias em geral e em particular desta é a falta de informação

A mais recente epidemia do vírus Ébola tem aparecido nas primeiras páginas dos jornais e noticiários e está a gerar alguma apreensão na opinião pública. É por isso necessário analisarmos com frieza os factos sobre a epidemia.

Esta é uma infeção com uma elevada taxa de mortalidade, que pode ir de 60% até 90% e essa será porventura a principal razão para ser tão temida. A rapidez com que passa de sintomas ligeiros até hemorragias generalizadas que levam à morte também faz com que seja uma infeção que causa grandes receios.
Mas neste aspeto, as infeções com longos períodos de incubação como é o caso do vírus HIV podem ser mais temíveis em termos de saúde pública pelo maior potencial de serem transmitidas. Também a este respeito o Ébola não é porventura tão temível como a gripe, por exemplo já que não se transmite por via aérea mas sim por contacto próximo com fluídos de doentes num estado avançado da doença.
Um dos grandes obstáculos ao controlo das epidemias em geral e em particular desta é a falta de informação que é comum nos países africanos mais atingidos. Com elevadas taxas de analfabetismo não é fácil educar as populações para evitarem comportamentos de risco.

Há também muitas crenças que não são baseadas em factos científicos, além de desconfiança que leva a que por vezes se escondam os casos de infeção. Aliado a tudo isto há claro o problema de falta de instalações de saúde preparadas para tratar de um crescente número de casos, além de recursos limitados no que diz respeito a equipamentos de proteção que assumem neste caso uma importância vital para os médicos e enfermeiros que lidam com os doentes.
Podemos dizer, por isso, que à semelhança de outras infeções, o baixo desenvolvimento de um país faz com que seja mais vulnerável.
No entanto, esta epidemia está a pôr de prevenção também os países desenvolvidos já que na sociedade globalizada em que vivemos com rotas de avião a ligarem em poucas horas diferentes continentes, há um potencial grau de transmissão de qualquer infeção.

É por isso provável que alguns casos possam aparecer noutros países, tendo tido origem em pessoas que se deslocam de avião, mas deverá ser possível nesses países conter a infeção se for evitado o contacto com o doente e se quem presta cuidados de saúde estiver devidamente preparado e informado.
Quanto aos países africanos afetados é expectável que a infeção possa vir a ser controlada tal como aconteceu noutras epidemias anteriores, embora deva ainda causar muitas mais vítimas.
No futuro, espera-se que uma das vacinas que está a ser testada ou em desenvolvimento ou outro tratamento, como o antissoro de que tem sido falado nos últimos dias possa evitar novas epidemias.
No entanto, com a desflorestação e o contacto mais próximo das populações com animais selvagens que constituem o reservatório natural do vírus, poderemos assistir a epidemias mais frequentes, não só de Ébola mas também de outros vírus letais.

 

Duarte Barral

Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa

In: www.cienciahoje.pt

(Crédito da foto: EU Humanitarian Aid and Civil Protection / Flickr)